A Amazônia não é um deserto verde
e você já deveria saber disso

Texto: Giovanna Consentini Fotos: Fernanda Frazão
27 de fevereiro de 2019






 

25 milhões de pessoas moram nessa floresta cultural, habitada e produtiva e são a chave para o futuro da humanidade.

Queremos contar essas histórias.

A Amazônia brasileira é um verdadeiro mosaico de cores, histórias, costumes e sotaques, onde vivem também as populações indígenas, ribeirinhas, pequenos agricultores, pescadores, seringueiros, quebradeiras de coco-de-babaçu, enfim, gente das mais variadas que dependem diretamente de um dos mais importantes biomas do planeta.

Mas o que essas pessoas têm a ver com você?

Caso você não saiba, todos dependemos da mesma floresta para sobreviver. A conta é bem simples, sem as árvores da Amazônia não há chuvas em várias regiões da América Latina, e sem chuvas teríamos o mesmo destino que o deserto do Atacama, por exemplo. Segundo o relatório O Futuro Climático da Amazônia, isso só não acontece porque a floresta jorra  20 trilhões de litros de água por dia para a atmosfera num sistema de transporte de umidade chamado de “rios voadores”.

Além disso, a biodiversidade e o patrimônio da Amazônia servem de base para pesquisas e produtos na indústria de remédios, alimentos, cosméticos e higiene, entre outras tantas coisas presentes no nosso dia-a-dia.

A evapotranspiração da floresta contribui para a formação dos rios voadores. A foto mostra este fenômeno nos arredores da comunidade do Jauary, Pará, 2018.

Acontece que o desmatamento na Amazônia brasileira só vem subindo e já cobre quase 20% de seu território, o equivalente a um milhão de quilômetros quadrados. Um levantamento recente alerta: se desmatarmos menos de 5% desse território a floresta vai entrar em um ponto irreversível de deteriorização. Isso significa que a partir daí não tem mais volta.

Ou seja, a redução do desmatamento na Amazônia é uma questão urgente para garantir a qualidade de vida em todo planeta. E são os povos da floresta que melhor combatem esse perigo. Dentro seus territórios, eles mantêm uma diversidade de fauna e flora de um jeito bastante efetivo. Quer um exemplo? Somente as Terras Indígenas (TIs) brasileiras evitam a emissão de cerca de 31,8 milhões de toneladas anuais de CO2. É como se 6.7 milhões de carros fossem retirados das ruas durante um ano.
 

Para se ter uma ideia basta observar as imagens da NASA que mostram os arredores do Território Indígena do Xingu, a primeira terra indígena homologada pelo governo federal em 1961.

Mas não são somente as terras indígenas que preservam, os territórios quilombolas, reservas extrativistas, parques ambientais, também. Tudo isso garantido por lei. No entanto, a maioria dessas áreas protegidas está sob algum tipo de pressão oriunda das atividades exploratórias. Enquanto isso, o processo de demarcação desses territórios que estavam em andamento têm um futuro incerto, o que torna a luta desses povos ainda mais heróica. 

É a floresta que traz perspectiva de desenvolvimento e segurança física e cultural aos povos indígenas, quilombolas, extrativistas e muitas comunidades da Amazônia. Afinal essas pessoas desenvolveram conhecimentos sobre o uso dos recursos naturais dessas áreas ao longo de milhares de anos. Muitas plantas, por exemplo, se desenvolveram para o que conhecemos hoje por meio de técnicas indígenas de manejo da floresta, como a castanheira, a pupunha, o cacau, o babaçu e a mandioca.

O potencial econômico da Amazônia é imenso. Tanto que, só em produtos da floresta, o Brasil foi capaz de movimentar cerca de R$ 1,43 bilhão ao ano em 2014, segundo o IBGE.

Além disso, o turismo de base comunitária também é uma atividade promissora para a geração de emprego, renda e a preservação do patrimônio cultural dos povos da Amazônia.  

Fibras, borrachas, ceras, óleos, produtos alimentícios, aromáticos e medicinais movimentaram cerca de R$ 1,43 bilhão no ano de 2014 (FONTE: IBGE)

E é essa Amazônia que vamos
mostrar aqui na UNI.

Nossa  primeira parada foi no interior do Pará. Em conjunto com a Equipe de Conservação da Amazônia (Ecam), visitamos Cachoeira Porteira, Ariramba e Jauary, algumas das comunidades quilombolas que residem naquele território desde o século XIX. 

Seus moradores são descendentes de negros escravizados que fugiram da tortura e encontraram na floresta a sua casa e ali desenvolveram suas vidas. Essas 3 comunidades conseguiram lutar e conquistar a titulação de seus territórios mesmo enfrentando pressões para que deixassem suas terras em troca de dinheiro. Eles são guardiões de uma área de 9,5 mil quilômetros quadrados, um território maior que Dubai. Lá impedem o avanço do desmatamento e enfrentam cada vez mais desafios e ameaças. 

Se queremos cuidar de tudo isso precisamos conhecer, confiar e apoiar comunidades como essas. Apoiá-los é garantir nossa sobrevivência. 

Conecte-se à Amazônia! 

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